sábado, 9 de maio de 2009

Sentimentos são Recicláveis

Às vezes ficamos assustados ante a montanha de detritos que se acumularam no pouco ou muito tempo da relação a dois.
O primeiro pensamento que nos acode é o de nos desfazermos de tudo, empreendendo uma verdadeira faxina, capaz de nos livrar de tamanha incomodação.

Ocorre que, entre as coisas imprestáveis que achamos que precisam ser removidas, encontram-se os nossos sentimentos, aqueles mesmos que nos ajudaram a identificar o outro como sendo a pessoa ideal para junto com ela escrevermos a história de nossas vidas.

Importa reconhecer que, uma relação a dois se faz em sentido de complementaridade, cada um correspondendo a uma parte do todo, com suas especificidades e seus humores, sua espiritualidade e seus valores, sua estrutura e sua herança familiar.

E isso não pode ser modificado. Cada um traz enraigados consigo conceitos éticos, morais e afetivos, impondo-se como importante, na hora de repensar a relação, saber explorar convenientemente a montanha de coisas imprestáveis que se acumularam em cima daquele sonho idealizado de outrora, por conta dos muitos desafios que as duas partes do todo tiveram que enfrentar no curso da convivência cotidiana.

Com toda a certeza, esse garimpo acabará por identificar os fragmentos de sentimentos, que sempre estiveram presentes, ao longo do tempo que passou, e que foram responsáveis pela permanência das partes, unidas e complementares, até então.

E são justamente esses fragmentos que precisam ser cuidadosamente identificados e separados do entulho comum, representado pelos episódios desimportantes da relação, acontecimentos menores vivenciados ao longo do tempo; contingências pequenas e incapazes de se sobrepor ao desejo sincero e maior, de recomeçar e prosseguir em frente, mesmo sabendo que o outro não é mais aquela pessoa idealizada que ficou no passado.

A vida é um permanente processo de renovação.E os sentimentos verdadeiros constituem partículas recicláveis que se descolaram do coração e acabaram por se juntar aos detritos desimportantes que se foram amontoando ao longo da vida. Mas, esses pedacinhos bons não podem correr o risco de serem também jogados fora, na faxina que, vez por outra, a vida nos faz empreender, sob pena de não sobrar mais nada aproveitável dentro de nós.

Ao contrário, fragmentos recicláveis de sentimentos devem sempre voltar a compor a camada protetora do coração, exatamente no lugar de onde nunca deveriam ter-se descolado, a fim de que as partes do todo sejam capazes de voltar a empreender com sucesso a mais recente nova etapa de vida para a qual, vez por outra, a vida volta a convocar os amantes verdadeiros.

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