sábado, 9 de maio de 2009

Oração a mim mesmo

Que eu me permita olhar e escutar e sonhar mais.

Falar menos.

Chorar menos.

Ver nos olhos de quem me vê a admiração que eles me têm e não a inveja que, prepotentemente, penso que têm.

Escutar com meus ouvidos atentos e minha boca estática,as palavras que se fazem gestos e os gestos que se fazem palavras.

Permitir sempre escutar aquilo que eu não tenho me permitido escutar.

Saber realizar os sonhos que nascem em mim e por mim e comigo morrem por eu não os saber sonhos.

Então, que eu possa viver:

Os sonhos possíveis e os impossíveis;

Aqueles que morrem e ressuscitam

A cada novo fruto

A cada nova flor

A cada novo calor

A cada nova geada

A cada novo dia

Que eu possa sonhar o ar

Sonhar o mar

Sonhar o amar

Sonhar o amalgamar

Que eu me permita o silêncio das formas

Dos movimentos

Do impossível

Da imensidão de toda profundeza

Que eu possa substituir minhas palavras

Pelo toque

Pelo sentir

Pelo compreender

Pelo segredo das coisas mais raras

Pela oração mental

Aquela que a alma cria e que só ela, alma, ouve e só ela, alma, responde

Que eu saiba dimensionar o calor

Experimentar a forma

Vislumbrar as curvas

Desenhar as retas, e aprender o sabor da exuberância que se mostra nas pequenas manifestações da vida

Que eu saiba reproduzir na alma a imagem que entra pelos meus olhos fazendo-me parte suprema da natureza,
criando-me e recriando-me a cada instante

Que eu possa chorar menos de tristeza e mais de contentamentos

Que meu choro não seja em vão, que em vão não sejam minhas dúvidas

Que eu saiba perder meus caminhos mas saiba recuperar meus destinos com dignidade

Que eu não tenha medo de nada, principalmente de mim mesmo

Que eu não tenha medo de meus medos!

Que eu adormeça toda vez que for derramar lágrimas inúteis, e desperte com o coração cheio de esperanças.

Que eu faça de mim um homem sereno dentro de minha própria turbulência

Sábio dentro de meus limites pequenos e inexatos

Humilde diante de minhas grandezas tolas e ingênuas

Que eu me mostre o quanto são pequenas minhas grandezas e o quanto é valiosa minha pequenez

Que eu me permita ser mãe

Ser pai

E, se for preciso

Ser órfão

Permita-me eu ensinar o pouco que sei

E aprender o muito que não sei

Traduzir o que os mestres ensinaram

E compreender a alegria com que os simples traduzem suas experiências

Respeitar incondicionalmente

O ser

O ser por si só por mais nada que possa ter além de sua essência

Auxiliar a solidão de quem chegou

Render-me ao motivo de quem partiu

E aceitar a saudade de quem ficou

Que eu possa amar e ser amado

Que eu possa amar mesmo sem ser amado

Fazer gentilezas quando recebo carinhos

Fazer carinhos mesmo quando não recebo gentilezas.

Que eu jamais fique só, mesmo quando eu me queira só.

Amém.

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